domingo, 21 de junho de 2009

QUAL O VALOR DO AMOR PERDIDO? SÓ REAVALIANDO A PERDA!

SOBRE O AMOR QUE NÃO DEVIA SER...

Quando nos sentimos apaixonados por alguém que escolhemos amar, uma explosão de hormônios se espalha por nosso cérebro e nosso corpo causando as mais variadas reações psicológicas e somáticas. Euforia e cegueira diante da pessoa amada é a mudança mais perceptível por todos, em nós. Vive-se, na esperança do vínculo emocional, a plenitude dessas reações! Aí o tempo passa e não percebemos direito quem escolhemos amar e, noutro momento, tudo muda quando simplesmente começam as ameaças de abandono por essa pessoa amada e todas as reações mencionadas se voltam contra a pessoa que se apaixonou, enfraquecendo a sua auto-estima. Desse abaixamento da auto-estima decorrem muitas consequências.... a pior delas é: a impossibilidade de conseguir dizer não à pessoa que rejeita julgando-a, ainda, a melhor opção (por ter sido "aceito" por ela no passado), com um embotamento subjetivo da percepção das próprias características e sem apostar nelas no futuro, temendo nova rejeição. Literalmente a pessoa perde o seu próprio referêncial, seu amor próprio.

Ocorre uma natural martirização na tentativa de entender tudo o que está ocorrendo ou ocorreu, no desfecho... no não vínculo. O que era motivo de orgulho e felicidade em cada lembrança do sonho vivido, agora, já vem à mente como um martírio infinito e perturbador de inúmeras questões que nunca têm compreensão, quando a pessoa amada se distancia lenta ou abruptamente sem entendermos o porquê. Ficamos nos perguntando insistentemente para tentar obter uma resposta do desapego e dos motivos verdadeiros da pessoa que se afasta...

As respostas muitas vezes são buscadas em terapia, pois a perda do referencial amoroso é um momento difícil e a elaboração dessa perda muito significativa é muito sofrida e, convenhamos, é um mal que pode acometer a quase todos, por vezes. As respostas podem estar associadas às pessoas que inconscientemente escolhemos e no por que tendemos a amar mais umas pessoas que outras!


O OBJETO DA PAIXÃO...

A maior característica do amor apaixonado inadequado é a tentativa de entrega total de um, que se desenrola numa espécie de vácuo afetivo, ao outro não receptivo. Essa entrega unilateral é tão mais total quanto mais intrigante, introspectiva, indecifrável e distante é a pessoa amada. Ocorre com muitos pelo menos uma vez na vida uma paixão por alguém que não tem, mesmo que pareça apenas, capacidade afetiva. Tendemos a valorizar essa distância acreditando que a resposta à nossa doação afetiva feita virá como um prêmio pela conquista única, diferente de todas e na esperança de um retorno da correspondência afetiva que nunca vem e nem poderia vir, aumentando a nossa própria falta afetiva, bem como, as nossas esperanças a uma relação íntima, próxima e ótima. Essa é a grande ilusão amorosa que muitos vivenciam. Por que aquela outra pessoa amada, no passado, que era companheira, amiga, afetiva e comunicativa que se foi, tornou-se apenas mais uma pessoa amiga? A tendência, então, é a paixão pelo que se mostra impossibilitado, incontrolável, inacessível, intocável, doente...

Muito comum as pessoas procurarem o psicólogo depois de um amor avassalador assim, tentando sair da depressão e entender não o quê aconteceu somente, mas o porquê da pessoa amada ter insensivelmente causado tanto sofrimento, agindo como agiu. É esperado, pelo paciente, um diagnóstico e uma compreensão do terapeuta do comportamento dessa pessoa que partiu em duas insistentes perguntas: “por que essa pessoa agiu como doida”? e “eu não entendo o comportamento dela ou dele, pois a, o amava tanto”? Mas algumas pessoas "especiais" sempre partiram e partirão corações se tornando tão mais amadas e, por vezes, odiadas.

Verificar atentamente tanto o histórico de vida afetivo-sexual do paciente, suas vulnerabilidades e os traços de personalidade da pessoa razão da reação depressiva do queixoso, iniciam a compreensão!

UMA REALIDADE...

Há um grande número de pessoas que, sem nunca perceberem que estão doentes, não sendo insanas ou intelectualmente defeituosas, apresentam, em algum grau, distúrbios afetivos consequentes de suas personalidades psicopáticas, perversas, paranóides, gravemente neuróticas ou também consequentes dos problemas com o álcool. Cada personalidade citada, se estrutura por fatores hereditários, culturais, ambientais e outros que podem imprimir dinâmicas de comportamentos observados de uma forma anormal em relação à perda ou ausência de certos sentimentos, à perda de controle e à perda de senso ético nos relacionamentos.

Provavelmente muitas pessoas amam ou já amaram pessoas assim e, mesmo sem o saber, sofrem ou sofreram com tudo aquilo que tornam essas personalidades tão distantes afetivamente, pois os seus comportamentos dinâmicos as colocam muitas vezes evidentemente diferentes nos seus relacionamentos sociais, profissionais e, em questão, nos amorosos, que não existem verdadeiramente.

Cito o exemplo de um paciente que ouviu da pessoa que amava que ela estava tendo relações sexuais com o seu chefe, casado, em busca de ter a sua carteira de trabalho assinada por ele, bem como, outros favorecimentos pessoais. Essa mulher não se preocupava com as conseqüências de seus atos, da sua justificada troca, visto que seguia somente as expectativas de seus objetivos imediatos, isenta de culpa ou qualquer outro aspecto moral que a barrasse. Muitas pessoas podem achar essa atitude normal ou compreensível, nos dias de hoje, visto as dificuldades para se encontrar uma base econômica estável, contudo, chamo-as a avaliarem os critérios de uma esperada razoabilidade acerca de todos os valores morais que se esperam uns dos outros em nossas ações, as quais não estavam contidas na falta de limite e na torpeza dessa mulher. Pelo que sei, apesar da terapia que foi abandonada nesse caso, ela não se firmou no tal emprego, submetendo-se ainda ao chefe e provavelmente a outras pessoas com poder de ajudá-la, em razão de seus objetivos de sobrevivência. Ela não busca amor, somente segurança.

É difícil e dinâmica a experiência de buscar um relacionamento coeso e duradouro com pessoas assim, pois são inconstantes e parecem viver uma eterna atuação teatral muito sedutora que muda o tempo todo, dependendo do objetivo momentâneo, de afastamento ou aproximação. E pelo simples fato delas incorporarem o inconsciente imaginário das paixões, ou seja, são um desafio à natureza humana da conquista por serem inatingíveis, conviverem bem com a solidão e de uma forma incurável se distanciarem afetivamente do outro numa especie de controle sobre o seu desejo. Por esse motivo bem específico ou outro qualquer que as ameaçe sempre se afastam, por mais amadas que sejam.

A idéia central é que todos nós podemos inconscientemente ser atraídos pela necessidade de tentar conquistar pessoas que nunca se entregam afetivamente a ninguém.

TRAÇOS DE PERSONALIDADE...

As pessoas com sérios desvios de personalidade são incapazes de terem uma única vivência plena de um amor pela vida ou mesmo de terem a compreensão de seus infortúnios em relacionamentos que somente podemos chamar de “convívio” em função da manifestação dos seus intratáveis distúrbios afetivos e também, por vezes, de caráter, mas tanto para si mesmas como para os outros, conseguem evitar a angústia dessa falta de compreensão geral através da agilidade verbal e da imposição de culpas aos outros pelos seus próprios fracassos. Esse insight superficial nunca penetra no âmago da autocomplacência.

Os referidos traços mais marcantes, variados em grau, são o descontrole nos impulsos, a irritabilidade, a ansiedade, a hipersensibilidade, o egocentrismo, a rigidez das atitudes, o narcisismo, o exibicionismo, a falta ou embotamento de envolvimento emocional normal que torna a pessoa fria, insensível, focada numa eterna autoreferência e pela ausência de humildade, a conduta arrogante que ostenta uma verdade única que sobrepõe a de todos e, do ponto de vista cognitivo, o defeito mais característico é a incapacidade de aprender pela experiência ou tirar proveito de seus fracassos e desilusões. Todos esses traços muitas vezes são potencializados pelo uso social de álcool ou outras drogas.

Contudo, são pessoas muito carentes que não rejeitam a aproximação afetiva das pessoas a sua volta, mas que não as enxergam ou as valorizam verdadeiramente, devolvendo “amor” de forma objetiva, prática (com falso altruísmo, sentindo-se o "centro do universo") e, essencialmente, racional numa base de troca de favores.
Na relação com as pessoas que dizem amar e com os filhos, costumam ser superprotetoras e ciumentas focando seus cuidados amorosos tão somente na razão de que não lhes “falte nada”, tentando suprirem, assim, a falta de afetividade normal e de lhes garantirem a lealdade amorosa dessas pessoas próximas, por todas as atitudes feitas nesse sentido.

No comportamento sexual também agem de maneira a proverem sexualmente o amante, de uma forma que a sexualidade vivida lhes garantam a sensação de vínculo e compromisso por parte do outro e de suas próprias ansiedades, tão somente. O corpo é para essas pessoas um objeto exclusivamente feito para dar e receber prazer, nunca se envolvendo com a alma, sendo muito focadas na idéia do desempenho e da satisfação sexual próprias e do amante, meramente. Daí a questão da traição ser um conceito algo vago e pouco considerado importante por essas pessoas.

SOBREVIVENDO...

Busca-se, junto ao paciente deprimido e atordoado por esse amor descabido e fracassado, a compreensão de sua impossibilidade de conclusão amorosa com as pessoas descritas acima, retirando-lhes a insistente idéia da culpa que se apodera delas, para que sigam suas vidas buscando um objeto amoroso mais adequado psicológica e afetivamente. Poupar-lhes do martírio de se sentirem culpados por não terem feito a felicidade de alguém com essas características e, portanto, das suas próprias é um trabalho de compreensão gradativa.
Devem ser as metas básicas nesse tipo de atendimento a retirada da persistente sensação de culpa quanto ao fracasso de não atingirem tal objeto amoroso impossível e patológico facilitando ao paciente que se dê a chance de entender que tais personalidades não o fariam feliz ou mesmo qualquer outra pessoa, por mais sedutoras que elas sejam. A busca de compreensão de que nunca se tratou de uma verdadeira rejeição, mas de uma consequência. Requer também a retirada da sensação de que o distanciamento dessas pessoas nunca se trata de uma mera inimizade de cunho intencional ou pessoal em função de algum tipo de incapacidade afetiva da parte da pessoa rejeitada, não correspondida.

A desilusão amorosa é a marca registrada deixada a todos por essas pessoas classificadas psiquiatricamente, pois somente se envolvem consigo próprias e com as suas próprias necessidades imediatas. As suas maiores angústias nos relacionamentos tentados são se sentirem sufocadas e incompetentes em dinâmicas afetivas, por não saberem retribuir algo que não compreendem ou por não saberem, abertamente, fluir nos meandros da intimidade e espiritualidade. Determinam-se na vida, irremediavelmente, pelo comportamento mais sexualizado o qual não deve nunca ser confundido com amoroso.