segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ESCLARECENDO AS DISFUNÇÕES SEXUAIS MASCULINAS...



Disfunções sexuais são alterações do padrão normal de resposta da função sexual. Associam-se às alterações ou ao mau funcionamento da psiconeurofisiologia sexual: os distúrbios da excitação (disfunção erétil), do desejo (inibição do desejo sexual ou inapetência sexual) e do orgasmo (ejaculação precoce, retardada e anedonia ejaculatória).

O distúrbio eretivo ou, comum e pejorativamente chamado de, impotência sexual é a ausência, a perda ou a não manutenção de ereção suficiente para a penetração ou coito. Advém de várias causas: psicogênica, neurogênica, hormonal, vascular, medicamentosa e anormalidades orgânicas ou no pênis. Essas causas podem atuar de forma isolada ou em conjunto. As causas psicológicas mais comuns para os distúrbios eretivos são pela inibição do desejo sexual; o temor de desempenho com o medo de falhar (ansiedade); da exigência excessiva no resultado; do relacionamento dinâmico e conflituoso que gere, em relação a parceira, ira ou muita competição; das manifestações de insegurança e da falta de confiança; de sentimentos de inferioridade e inadequação em relação a parceira; como reflexo da autoridade da parceira; do conflito pessoal religioso em relação à sexualidade; dentre outros. O alcoolismo e o tabagismo como causas de alterações orgânicas que desencadeiam distúrbios eretivos são as mais comuns. Pode estar associada ou ser causa de outro quadro, a ejaculação precoce.

A ejaculação precoce é de difícil classificação uma vez que o homem pode não ser rápido demais para algumas parceiras e ser para outras, portanto é ejaculador precoce o homem que não tem controle ejaculatório suficiente (do homem que nunca teve ou que passa a não ter) para dar tempo suficiente a sua parceira obter satisfação com o orgasmo, em mais de 50% das situações de coito. As causas mais comuns são a ansiedade, o condicionamento, irritações ou inflamações da próstata ou uretra e, em um número considerável de casos, a associação a comprometimentos intrapsíquicos próprios do paciente. Outro distúrbio da ejaculação é a queixa contrária, ou seja, o homem que apresenta bloqueios ejaculatórios ou ejaculação retardada. Ocorre também, bem mais rara, a anedonia ejaculatória que é a ejaculação não acompanhada da sensação de prazer no orgasmo.

No desejo, ocorre a sua inibição que é uma disfunção bem comum entre os homens e não pode mais ser exclusivamente associada às queixas femininas, apesar das medicações existentes no mercado e que não funcionam sem a presença do desejo sexual nas relações. Ocorre diminuição do apetite sexual em função de crises profissionais, econômicas e afetivas, stress, idade, mudanças, habituação sexual ou trocas eróticas empobrecidas entre o casal, clima sexual tenso, como reação às várias manifestações da depressão reativa ou endógena medicadas ou não, estados clínicos, dentre outros.

Alguns dados estatísticos servem para confirmar, como exemplo, que um dos problemas sexuais masculinos mais comuns vai continuar sempre a existir. No Brasil, a disfunção erétil incide em 2% dos homens entre 20 e 40 anos; 12% entre homens de 41 a 50 anos; 18% entre homens de 51 a 60 anos; 30% entre homens de 61 a 70 anos e 52% entre os homens com mais de 71 anos. Nas disfunções com causas exclusivamente psicogênicas, o resultado com a terapia de casais tem um percentual de sucesso que abrange 95% após, em média, 10 sessões num processo de terapia breve focada na queixa, mas que muito a ultrapassa. Contudo, a taxa de evasão é de 52% aos primeiros sinais de algum sucesso terapêutico. Já outras queixas com causas conjuntas são melhores abordadas se houver a possibilidade de um atendimento paralelo psicológico e médico, muitas vezes imprescindível, onde se soma outros fazeres específicos, tais como: o uso de comprimidos, injeções intracavernosas de drogas vasoativas, o implante peniano, o tratamento das doenças endócrinas e a restauração vascular, dentre outros.

A parceira de um homem com uma disfunção sexual nunca está alheia ao problema. Muitas vezes essa parceira é tolerante, carinhosa e, por vezes, se sente até mesmo culpada pelo baixo desempenho do parceiro e o apóia na busca de uma solução, de um tratamento ou pode se sentir indignada, rejeitada e passar a exigir resultados, se eximindo de qualquer parte no problema. Ocorre que o problema sexual de um é também o do outro e queixas simultâneas são comuns.
Pela prática, entretanto, um fato que se pode afirmar é de que o queixoso sexual pode estar omitindo, sofrendo e tentando resistir a sua dificuldade há muito tempo. Muitos homens, de todos os graus de cultura, raramente se mobilizam aos primeiros sinais de mudanças na função sexual e protelam ao longo de anos em buscar a ajuda de um especialista em casais (vide postagem: TRATANDO OS PROBLEMAS SEXUAIS...) ou de outra área, pois, lamentavelmente, são reféns de um mito masculino remoto e arraigado: “É responsabilidade do homem resolver tudo com a sua parceira na cama” e ainda se sentem constrangidos de terem de buscar a inclusão de um terceiro no assunto. Contudo, ao longo de décadas de existência do estudo e tratamento da sexualidade humana, a comunicação moderna tem divulgado e conseguido a difícil tarefa de sanar ou amenizar as seqüelas desse mito e os profissionais especializados da área da psicologia e da medicina estão sendo reconhecidos como imbuídos na missão de ajudar, aliviar e tratar os distúrbios sexuais. 

sábado, 16 de agosto de 2014



DELÍRIO PARANÓIDE DE CIÚME

O ciúme é o vilão mais presente em inúmeras histórias de amor mal sucedido. A pessoa ciumenta se torna paranóica sofrendo, e fazendo sofrer, com as suas interpretações de uma realidade que não coincidem com a própria realidade. Invariavelmente essa pessoa danifica a qualidade de vida do casal e pode ser muito destrutiva, excessivamente controladora na vida amorosa, sentindo invariavelmente baixa autoestima pela extrema insegurança, ansiedade e raiva ou medo o tempo todo.

A semelhança da reação paranóide com “cismas” normais sempre atraiu a atenção da psicologia. Na realidade, não há como discriminá-las entre si de forma puramente descritiva. 

O ciúme delirante pode se revelar numa crença real, onde uma pessoa acredita que seu par esta sendo infiel assumindo atitudes das quais parece claramente não se responsabilizar como: seguir a pessoa, olhar sua carteira, bolsa ou celulares, cheirar a roupa buscando perfumes, procurar fios de cabelo nas roupas, etc, acreditando que vai descobrir um/uma amante e finalmente poder desmascarar. 

Tais comportamentos e acusações sempre infundadas podem conduzir o companheiro/a fiel à infidelidade pela tensão constante e sem motivo causada nele pela rotina delirante, que mina a lealdade ou confiabilidade existente. A diminuição de consideração e afeição ao parceiro acusador resultam em aversão e baixa de desejo sexual ao mesmo, pouco importando seus apelos sentimentais ou os vários pedidos de perdão pelas acusações infundadas.

As pesquisas indicam um caráter Biopsicosociocultural para esse distúrbio com evidencias de causas bioquímicas, criação Familiar extremamente rigorosa e cruel, por vezes, abandônica e o stress como desencadeadores. Enquanto um quadro clínico, predomina a angústia do abandono e a necessidade de segurança. Não corresponde necessariamente a um abandono sofrido na infância, mas a vivência de atitudes afetivas de pessoas significativas, sentidas como recusas. As características mencionadas são traços normais na maioria das pessoas, contudo em personalidades predisponentes rígidas e não adaptativas constituem o transtorno. 

O prognóstico terapêutico favorável deve ser visto com reservas, mas a terapia cognitiva pode ajudar no ciúme patológico, em terapias de longo prazo.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

AUTOESTIMA É TUDO, MESMO QUE VOCÊ NÃO TENHA NADA!!

Vou me referir a um certo tipo de pessoa, que pode pertencer a uma grande parte da população, e que costuma se sentir inferior quando tenta comparar-se social, econômica, cultural e esteticamente a outras pessoas ao seu redor, nos mais diversos tipos de convívios. Esse tipo de comparação começa a ser feito, por condicionamento, desde a infância e perdura por toda a vida nela.

Essa questão de sentir-se inferior é, pois, uma experiência humana universal, cujas raízes estão na infância, mas que vai diferir em cada um. Ou as experiências comparativas somente impulsionam uma pessoa a alcançar seus próprios objetivos externos ou um tipo de autoconsciência neurótica e inadequada a obrigará a desenvolver sentimentos de inferioridade e sentimentos de culpa mais generalizados, que nunca têm alívio e, por consequência, imobilizam e limitam desempenhos na sua vida amorosa, afetiva e social.

O que a pessoa pensa a respeito de si mesma define como ela vai se conduzir na vida, se cuidará sempre dela mesma, em primeiro plano, como sendo o ser mais importante que existe no seu mundo, com amor próprio, algo que ninguém pode te dar e nem te negar ou se cederá seus espaços, realizações e sentimentos ao “grande” outro, que é, numa visão empobrecida, uma pessoa mais poderosa, mais habilidosa, afortunada ou de qualquer outra forma mais desenvolvida.

A importância de uma avaliação subjetiva positiva é fundamental para ser uma pessoa feliz num mundo onde as pessoas competem. É impossível ser a pessoa mais bela, rica, inteligente e mais poderosa do mundo. Mas, quando construímos a nossa própria imagem a partir de nossas verdadeiras características, que nunca precisam ser perfeitas ou plenas em nada, acreditando nelas como sendo nossos próprios recursos, as capacidades e limitações reais de nós mesmos, independente do que o outro vai esperar, criticar, aprovar ou não, impor à nós, numa relação de investimento pessoal interno, de carinho e amor incondicionado a nós mesmos o crescimento e fortalecimento do ego é inevitável, pois autoestima nada mais é que a apreciação que uma pessoa faz de si mesma em relação à sua autoconfiança e seu auto-respeito, com uma forte noção de merecimento, pertença e competência e o outro não entra nunca nessa história.

Autoestima não é questão de ter, mas de ser. A noção de possuir, de “ter” as mais variadas possibilidades materiais e estéticas, nos dias de hoje, está muitíssimo arraigada nas pessoas. O “ser” está em baixa. Contudo, nossos invólucros vão envelhecer, se a morte não vier antes. E tudo que nos fazia “belos e ricos”, vai-se também. Outra proposta aqui é de uma valorização interna, o mais rápido possível, sempre com a preocupação de incremento de um bom conteúdo pessoal (valores, princípios, etc).

Lembre-se de que o que se é ninguém tira e, às vezes, mata de inveja. A construção do nosso mundo interior melhor depende de aprender a ouvir a própria voz interna, que vem do nosso coração, da nossa alma, que são nossas emoções ou vem de nossa mente, da nossa razão. E a pessoa que percebe e reflete suas emoções e racionalizações, muito implica numa construção de elevada autoestima, o que não lhe onera em nada, pois é de graça. E, nesse processo de crescimento, quanto mais a pessoa se ama e se valoriza mais ela conseguirá lidar com tudo aquilo que é diferente dela, criará mais opções flexíveis para lidar com perdas, frustrações, pressões e tantos outros problemas da vida.

Ninguém precisa esperar pelo melhor momento da sua vida para começar a incrementar sua autoestima, recomendo até que seja quando estiver numa fase "introspectiva". Se você se considera uma pessoa com baixa autoestima, só conte com você mesmo (o psicólogo só facilita o processo) para mudar isso, pois, repito, ninguém poderá te dar ou te negar que reconstrua sua autoestima, bastando para isso que, à partir da escolha desse momento, mude para uma visão positiva de todas as características boas de si mesmo, que são realmente suas e se dê esse direito independente dos outros que fizeram julgamentos extremistas sobre você, exigiram demais ou foram severos demais com você, no passado, colocando em você sentimentos de inadequação ou insegurança com relação a tudo.

Se aceite e vivencie sem negação aquilo de bom que existe dentro de você e mostre qualidades para todos e reflita com você mesmo suas características negativas, elaborando-as. Sinta que, hoje, mais amadurecido(a) você já esta livre do antigo condicionamento, pois o que é insuportável ou intolerável não dura para sempre. Ame-se de verdade e perceberá que as pessoas que vão se aproximar de você te amarão pelo que você é. Essa é a grande e melhor vantagem de se ter elevada autoestima. Busque-a!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

SEDUTORES .COM



Não é de hoje que a Internet serve a diversos propósitos. Provavelmente, o mais remoto desses propósitos e que já nasceu junto com ela própria é o que certas pessoas buscam em chat’s de bate-papo, no msn ou em sites de encontros e namoros, ou seja, serem exímios sedutores!

Seduzir vem do latim seducere, que significa levar para o lado, arrastar. Mas para onde e para quê uma mulher arrasta alguém quando seduz na Net, por exemplo? Em princípio, para a mulher que seduz conquistando a confiança dos homens, que na Net não é nunca um único objeto e nem o mesmo desejo, tem sempre uma intenção permanente. Criar através da mentira, da insinuação, do mistério, do não acesso total, da quase entrega total um retorno do seduzido que a recompensa tanto. Os homens já seduzem como o meio mais visível e repetitivo do fim sexualizado e isso nunca vai mudar. Mas em ambos os sexos, o outro seduzido serve somente para fortalecer egos hiperdimensionados, narcisistas e frágeis que precisam ser alimentados de atenção.

A Net é o lugar apropriadíssimo para tal objetivo, visto que, esse veículo abrangente atinge a muitos de forma ampla ou específica. Ocorre que muitas pessoas se rendem aos sedutores somente virtualmente e nunca saem disso, outras vezes, muitos depois de se entregarem a uma paixão avassaladora virtualmente, se entregam pessoalmente ao seu sedutor(ra). E os seduzidos se rendem por vários motivos. Dentre esses, por serem pessoas sensíveis, ingênuas, carentes, solitárias ou mesmo podólotras, masoquistas, fetichistas... não importa os mais variados tipos de personalidade ou desejos “secretos” específicos, quem seduz e quem quer e se deixa seduzir se encontram na Net.

Os sedutores se insinuam, se tornam interessantes, misteriosos e se transformam aos poucos em objetos quase reais dos desejos daqueles que eles seduzem, pois encarnam os seus ideais de ego. Mas nunca há entrega total, são ocultos, dissimulados e controlam muito bem toda possibilidade de se poder “apropriar” deles, pois vivem do desejo que provocam... essa possibilidade controlada é o que estimula e obriga o seduzido a esse eterno retorno: um pouquinho mais do que não se terá nunca. Impossibilidade que não é nunca desmentida. Contudo, se o objeto seduzido estiver sob total controle e não significar ameaça ao mundo restrito e muito pessoal do sedutor, pode ocorrer um encontro.

A webcam possibilita mostrar um derradeiro pouco mais... um “ato sexual” que não é um fim, mas um elemento intermediário, ao qual, no caso da mulher, nunca se detém. Na net, mulheres ou homens muito comportados socialmente podem viver papeis e criarem ilusões para si de domínio e controle do outro, pelo desejo. Ambos agem despertando a atenção desse desejo manifestado de quem está do outro lado, no pc! Os sedutores deixam marcas sugestivas e subjetivas... feito o contato, reforçam sempre a volta a essas marcas.

O que diferencia o homem da mulher, substancialmente, é que ela não pensa exclusivamente no próprio ato sexual em si, mas sim nos próximos encontros no teclado e na web, com quem, sim, faz sexo virtual com ela ou vive fantasias. A mulher sedutora primordialmente devolve o encantamento das suas seduções em retalhos de si mesma transformando-os em recordações nostálgicas de “ser amada”, pelo desejo que causa. E saber-se dentro da alma de um homem ou vários, que se pensam únicos, é a meta de grande número de sedutoras. Os encontros na Net para elas são como terem copulado sem cópula... buscam sempre um reforço nesse jogo de controle e posse de homens “virgens”. O Homem, como dissemos antes, tem a idéia fixa em mais um provável ato sexual, na ereção que precisa ser satisfeita e se essa acontece, no real, com a pessoa seduzida, ele não tem medo de ser abandonado ou medo de não ser mais desejado.

Reconhecer um sedutor ou sedutora na Net não é muito fácil. Mas o modo de agir é sempre o mesmo. Espero que com esse texto eu tenha ajudado aos que querem reconhecê-los ou mesmo pretendem se tornarem grandes sedutores! Boa sorte!

domingo, 21 de junho de 2009

QUAL O VALOR DO AMOR PERDIDO? SÓ REAVALIANDO A PERDA!

SOBRE O AMOR QUE NÃO DEVIA SER...

Quando nos sentimos apaixonados por alguém que escolhemos amar, uma explosão de hormônios se espalha por nosso cérebro e nosso corpo causando as mais variadas reações psicológicas e somáticas. Euforia e cegueira diante da pessoa amada é a mudança mais perceptível por todos, em nós. Vive-se, na esperança do vínculo emocional, a plenitude dessas reações! Aí o tempo passa e não percebemos direito quem escolhemos amar e, noutro momento, tudo muda quando simplesmente começam as ameaças de abandono por essa pessoa amada e todas as reações mencionadas se voltam contra a pessoa que se apaixonou, enfraquecendo a sua auto-estima. Desse abaixamento da auto-estima decorrem muitas consequências.... a pior delas é: a impossibilidade de conseguir dizer não à pessoa que rejeita julgando-a, ainda, a melhor opção (por ter sido "aceito" por ela no passado), com um embotamento subjetivo da percepção das próprias características e sem apostar nelas no futuro, temendo nova rejeição. Literalmente a pessoa perde o seu próprio referêncial, seu amor próprio.

Ocorre uma natural martirização na tentativa de entender tudo o que está ocorrendo ou ocorreu, no desfecho... no não vínculo. O que era motivo de orgulho e felicidade em cada lembrança do sonho vivido, agora, já vem à mente como um martírio infinito e perturbador de inúmeras questões que nunca têm compreensão, quando a pessoa amada se distancia lenta ou abruptamente sem entendermos o porquê. Ficamos nos perguntando insistentemente para tentar obter uma resposta do desapego e dos motivos verdadeiros da pessoa que se afasta...

As respostas muitas vezes são buscadas em terapia, pois a perda do referencial amoroso é um momento difícil e a elaboração dessa perda muito significativa é muito sofrida e, convenhamos, é um mal que pode acometer a quase todos, por vezes. As respostas podem estar associadas às pessoas que inconscientemente escolhemos e no por que tendemos a amar mais umas pessoas que outras!


O OBJETO DA PAIXÃO...

A maior característica do amor apaixonado inadequado é a tentativa de entrega total de um, que se desenrola numa espécie de vácuo afetivo, ao outro não receptivo. Essa entrega unilateral é tão mais total quanto mais intrigante, introspectiva, indecifrável e distante é a pessoa amada. Ocorre com muitos pelo menos uma vez na vida uma paixão por alguém que não tem, mesmo que pareça apenas, capacidade afetiva. Tendemos a valorizar essa distância acreditando que a resposta à nossa doação afetiva feita virá como um prêmio pela conquista única, diferente de todas e na esperança de um retorno da correspondência afetiva que nunca vem e nem poderia vir, aumentando a nossa própria falta afetiva, bem como, as nossas esperanças a uma relação íntima, próxima e ótima. Essa é a grande ilusão amorosa que muitos vivenciam. Por que aquela outra pessoa amada, no passado, que era companheira, amiga, afetiva e comunicativa que se foi, tornou-se apenas mais uma pessoa amiga? A tendência, então, é a paixão pelo que se mostra impossibilitado, incontrolável, inacessível, intocável, doente...

Muito comum as pessoas procurarem o psicólogo depois de um amor avassalador assim, tentando sair da depressão e entender não o quê aconteceu somente, mas o porquê da pessoa amada ter insensivelmente causado tanto sofrimento, agindo como agiu. É esperado, pelo paciente, um diagnóstico e uma compreensão do terapeuta do comportamento dessa pessoa que partiu em duas insistentes perguntas: “por que essa pessoa agiu como doida”? e “eu não entendo o comportamento dela ou dele, pois a, o amava tanto”? Mas algumas pessoas "especiais" sempre partiram e partirão corações se tornando tão mais amadas e, por vezes, odiadas.

Verificar atentamente tanto o histórico de vida afetivo-sexual do paciente, suas vulnerabilidades e os traços de personalidade da pessoa razão da reação depressiva do queixoso, iniciam a compreensão!

UMA REALIDADE...

Há um grande número de pessoas que, sem nunca perceberem que estão doentes, não sendo insanas ou intelectualmente defeituosas, apresentam, em algum grau, distúrbios afetivos consequentes de suas personalidades psicopáticas, perversas, paranóides, gravemente neuróticas ou também consequentes dos problemas com o álcool. Cada personalidade citada, se estrutura por fatores hereditários, culturais, ambientais e outros que podem imprimir dinâmicas de comportamentos observados de uma forma anormal em relação à perda ou ausência de certos sentimentos, à perda de controle e à perda de senso ético nos relacionamentos.

Provavelmente muitas pessoas amam ou já amaram pessoas assim e, mesmo sem o saber, sofrem ou sofreram com tudo aquilo que tornam essas personalidades tão distantes afetivamente, pois os seus comportamentos dinâmicos as colocam muitas vezes evidentemente diferentes nos seus relacionamentos sociais, profissionais e, em questão, nos amorosos, que não existem verdadeiramente.

Cito o exemplo de um paciente que ouviu da pessoa que amava que ela estava tendo relações sexuais com o seu chefe, casado, em busca de ter a sua carteira de trabalho assinada por ele, bem como, outros favorecimentos pessoais. Essa mulher não se preocupava com as conseqüências de seus atos, da sua justificada troca, visto que seguia somente as expectativas de seus objetivos imediatos, isenta de culpa ou qualquer outro aspecto moral que a barrasse. Muitas pessoas podem achar essa atitude normal ou compreensível, nos dias de hoje, visto as dificuldades para se encontrar uma base econômica estável, contudo, chamo-as a avaliarem os critérios de uma esperada razoabilidade acerca de todos os valores morais que se esperam uns dos outros em nossas ações, as quais não estavam contidas na falta de limite e na torpeza dessa mulher. Pelo que sei, apesar da terapia que foi abandonada nesse caso, ela não se firmou no tal emprego, submetendo-se ainda ao chefe e provavelmente a outras pessoas com poder de ajudá-la, em razão de seus objetivos de sobrevivência. Ela não busca amor, somente segurança.

É difícil e dinâmica a experiência de buscar um relacionamento coeso e duradouro com pessoas assim, pois são inconstantes e parecem viver uma eterna atuação teatral muito sedutora que muda o tempo todo, dependendo do objetivo momentâneo, de afastamento ou aproximação. E pelo simples fato delas incorporarem o inconsciente imaginário das paixões, ou seja, são um desafio à natureza humana da conquista por serem inatingíveis, conviverem bem com a solidão e de uma forma incurável se distanciarem afetivamente do outro numa especie de controle sobre o seu desejo. Por esse motivo bem específico ou outro qualquer que as ameaçe sempre se afastam, por mais amadas que sejam.

A idéia central é que todos nós podemos inconscientemente ser atraídos pela necessidade de tentar conquistar pessoas que nunca se entregam afetivamente a ninguém.

TRAÇOS DE PERSONALIDADE...

As pessoas com sérios desvios de personalidade são incapazes de terem uma única vivência plena de um amor pela vida ou mesmo de terem a compreensão de seus infortúnios em relacionamentos que somente podemos chamar de “convívio” em função da manifestação dos seus intratáveis distúrbios afetivos e também, por vezes, de caráter, mas tanto para si mesmas como para os outros, conseguem evitar a angústia dessa falta de compreensão geral através da agilidade verbal e da imposição de culpas aos outros pelos seus próprios fracassos. Esse insight superficial nunca penetra no âmago da autocomplacência.

Os referidos traços mais marcantes, variados em grau, são o descontrole nos impulsos, a irritabilidade, a ansiedade, a hipersensibilidade, o egocentrismo, a rigidez das atitudes, o narcisismo, o exibicionismo, a falta ou embotamento de envolvimento emocional normal que torna a pessoa fria, insensível, focada numa eterna autoreferência e pela ausência de humildade, a conduta arrogante que ostenta uma verdade única que sobrepõe a de todos e, do ponto de vista cognitivo, o defeito mais característico é a incapacidade de aprender pela experiência ou tirar proveito de seus fracassos e desilusões. Todos esses traços muitas vezes são potencializados pelo uso social de álcool ou outras drogas.

Contudo, são pessoas muito carentes que não rejeitam a aproximação afetiva das pessoas a sua volta, mas que não as enxergam ou as valorizam verdadeiramente, devolvendo “amor” de forma objetiva, prática (com falso altruísmo, sentindo-se o "centro do universo") e, essencialmente, racional numa base de troca de favores.
Na relação com as pessoas que dizem amar e com os filhos, costumam ser superprotetoras e ciumentas focando seus cuidados amorosos tão somente na razão de que não lhes “falte nada”, tentando suprirem, assim, a falta de afetividade normal e de lhes garantirem a lealdade amorosa dessas pessoas próximas, por todas as atitudes feitas nesse sentido.

No comportamento sexual também agem de maneira a proverem sexualmente o amante, de uma forma que a sexualidade vivida lhes garantam a sensação de vínculo e compromisso por parte do outro e de suas próprias ansiedades, tão somente. O corpo é para essas pessoas um objeto exclusivamente feito para dar e receber prazer, nunca se envolvendo com a alma, sendo muito focadas na idéia do desempenho e da satisfação sexual próprias e do amante, meramente. Daí a questão da traição ser um conceito algo vago e pouco considerado importante por essas pessoas.

SOBREVIVENDO...

Busca-se, junto ao paciente deprimido e atordoado por esse amor descabido e fracassado, a compreensão de sua impossibilidade de conclusão amorosa com as pessoas descritas acima, retirando-lhes a insistente idéia da culpa que se apodera delas, para que sigam suas vidas buscando um objeto amoroso mais adequado psicológica e afetivamente. Poupar-lhes do martírio de se sentirem culpados por não terem feito a felicidade de alguém com essas características e, portanto, das suas próprias é um trabalho de compreensão gradativa.
Devem ser as metas básicas nesse tipo de atendimento a retirada da persistente sensação de culpa quanto ao fracasso de não atingirem tal objeto amoroso impossível e patológico facilitando ao paciente que se dê a chance de entender que tais personalidades não o fariam feliz ou mesmo qualquer outra pessoa, por mais sedutoras que elas sejam. A busca de compreensão de que nunca se tratou de uma verdadeira rejeição, mas de uma consequência. Requer também a retirada da sensação de que o distanciamento dessas pessoas nunca se trata de uma mera inimizade de cunho intencional ou pessoal em função de algum tipo de incapacidade afetiva da parte da pessoa rejeitada, não correspondida.

A desilusão amorosa é a marca registrada deixada a todos por essas pessoas classificadas psiquiatricamente, pois somente se envolvem consigo próprias e com as suas próprias necessidades imediatas. As suas maiores angústias nos relacionamentos tentados são se sentirem sufocadas e incompetentes em dinâmicas afetivas, por não saberem retribuir algo que não compreendem ou por não saberem, abertamente, fluir nos meandros da intimidade e espiritualidade. Determinam-se na vida, irremediavelmente, pelo comportamento mais sexualizado o qual não deve nunca ser confundido com amoroso.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

EDUCAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL... ORIENTAÇÃO OU DESORIENTAÇÃO?



Todas as crianças em idade escolar são inocentes, puras e se sadias também são sexualizadas. Negar-lhes, com um ideal arcaico, proibitivo, leigo e preconceituoso, as informações de que nelas existirá uma vida sexual, que começa a partir da puberdade, é uma falácia da ideologia puritana e perniciosa. E por mais que seja estranho essas pessoas que negam a existência da sexualidade nas crianças, ainda insistem em negar esforços educacionais habilitados nesse sentido e insistem também em perseguir as manifestações no mesmo sentido e, por vezes, com um máximo de severidade. Citando até mesmo o remoto Freud: esses (...) “senhores estão cometendo o erro de confundir sexualidade com reprodução, e com isto estão bloqueando seu caminho para a compreensão da sexualidade, das perversões e das neuroses. Este é, contudo, um erro tendencioso. Estranhamente, origina-se do fato de que os senhores mesmos uma vez foram crianças e, enquanto eram crianças estiveram sob a influência da educação. Pois a sociedade deve assumir como uma das mais importantes tarefas educadoras domar e restringir o instinto sexual quando este irrompe como impulso à reprodução, e sujeitá-lo a uma vontade individual (...)”. Mas, falamos da falta dessa educação...

Na idade do ensino fundamental, o adolescente atinge certo grau de maturidade intelectual e que através da educabilidade, para todos os fins práticos, justifica a metodologia da educação sexual nas escolas.

Os educadores e orientadores sexuais cumprem a missão de suprir o vácuo informativo criado, na maioria dos pais, do temor de serem eles mesmos esses educadores, uma vez que são ou se fazem impedidos pela inércia da própria desinformação ou da própria hipocrisia sobre os aspectos da sexualidade. Pois, indiscutivelmente, essa maioria de pais pensa erradamente que poderiam por “idéias nas cabeças dos jovens”, falando de sexo, ou melhor, falando de sexualidade. Os educadores, diferente dos orientadores, tratam não só dos aspectos da informação da fisiologia sexual e das doenças sexualmente transmissíveis, mas de uma vasta temática que abarca grandes dúvidas nos adolescentes, tais como: a afetividade, o amor, o namoro, a homossexualidade, o “ficar”, a gravidez indesejada, o relacionamento interpessoal, os sentimentos e desejos, a auto-estima, o auto-erostimo, sexualidade e drogas, etc. Bem como, quando necessário, buscam resoluções dos problemas dos jovens, já num outro momento, em acompanhamento com os pais, que já vivem as possíveis conseqüências negativas da desinformação, por encaminhamentos, numa abordagem interdisciplinar (médicos ou psicólogos).

A sexualidade ou função sexual está presente em todas as realizações de caráter humano e assim o será sempre. Considerando-a um atributo inerente à pessoa humana, manifestando-se independentemente de qualquer ensinamento, a sexualidade ocupa o seu espaço e se faz presente nas atitudes, comunicação, no consciente, no inconsciente e que inclui a função erótica e reprodutora, as quais essas duas últimas as transcende em muito. Mas, não é a sexualidade em si que provoca danos, mas justamente a sua repressão e a ignorância em torno dela. Como disse, a maioria dos pais sentem-se estranhamente ameaçados pela sexualidade do adolescente e tentam controlá-la das maneiras mais ilógicas, não só através da negação. Alguns pensam que colocar educação sexual nas escolas poderia realmente inserir, precocemente, idéias nas suas cabeças e restringem em casa, por exemplo, as informações sobre métodos anti-concepcionais, na crença de que os jovens devem aprender é a ter medo da gravidez, ao invés de saber como evitá-la; censuram o que o jovem pode ver na televisão ou na internet, como se isso fosse possível, acreditando que mentes puras têm pensamentos puros; controlam o tamanho de suas roupas, imaginando que o decoro impede os pensamentos eróticos e o pior de tudo, fazem de conta que a sexualidade do adolescente não existirá nunca, criando problemas ou agravando alguns que já podem estar ocorrendo. Então, verdadeiramente, os adolescentes são as únicas vítimas a não concordar e a sofrer com as angústias da desinformação contida nessas convenções, perante o que normal e até esperado.

Portanto, a sexualidade inserida no contexto escolar é de extrema importância, pois tudo que nós fazemos, jovens ou mesmo adultos, no nosso dia-a-dia, o fazemos como homem ou como mulher e o crescimento e amadurecimento psicossexual nunca termina, estamos sempre aprendendo os vários e interligados aspectos da sexualidade e também, certamente, estamos ligados às suas conseqüências boas ou ruins. Urge encarar o tema da educação sexual nas escolas com extrema responsabilidade e respeito a esse fazer, que busca uma melhor integração do jovem através de uma adequada orientação para que vivam a sexualidade da forma mais livre, pois a informação educativa proporciona o uso mais responsável da liberdade e é um importante investimento a favor dessa mais plena realização humana.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

TRATANDO OS PROBLEMAS SEXUAIS...



A sexualidade humana tornou-se, tardia e inegavelmente, um assunto discutido, refletido e tratável. Do rompimento das barreiras do pudor acadêmico vitoriano até a psicofisiologia do casal pioneiro de pesquisadores William Masters e Virgínia Johnson é atualmente reconhecida, merecidamente, como especialidade médica ou psicológica através da sexologia. A sexualidade humana vem, então, lenta e obrigatoriamente, afirmando-se como um campo complexo ainda por ser ampliado, ao longo de quase 40 anos, em pesquisas no desenvolvimento do comportamento psicossexual humano, cujo foco de interesse é voltado para o diagnóstico e a metodologia de tratamento das disfunções e desvios da sexualidade.

O título dessa matéria não deveria ter sido colocado com o termo “problemas” sexuais, mas sim com o termo disfunções sexuais. Claro que houve uma intenção e essa foi a de buscar a atenção da maioria das pessoas que percebe nos bloqueios persistentes ou passageiros de suas sexualidades como terríveis e indisolúveis problemas, mas insisto que não os são. Tornam-se problemas sérios e crônicos, na maioria das vezes, quando as pessoas tentam buscar numa ajuda leiga ou tecnicamente desqualificada, em pozinhos energéticos ou em "pilulazinhas" desnecessárias ou mesmo contra-indicadas a saída mais rápida e garantida ou também quando o casal está em uma crise dinâmica e a comunicação, nossa arma mais eficiente, entre eles foi a primeira coisa perdida há tempos. Não há como os casais se submeterem, seja qual for a linha psicoterapeutica, a tratamentos escandalosamente duradouros ou muitas vezes onerosos e conseguirem ainda encontrar soluções satisfatórias ou estáveis de suas queixas, de seus relacionamentos conjugais, sexuais ou pessoais, já corroídos pelas frustrações e desesperanças, se não estiver preservados o amor e uma permanente comunicação entre eles.

Existem dois tipos de disfuncionais: os primários, que sempre tiveram alguma queixa desde as primeiras relações e os secundários, que apresentaram bloqueios depois de um histórico sexual satisfatório. Podem ser tanto homens como mulheres que têm uma parceria fixa e os que não têm. No momento, vamos nos ater aos que preferiram buscar por uma parceria fixa.

Quando se recebe um casal para tratamento de uma disfunção sexual, dele ou dela, a pergunta mais importante, se não for a mais importante da anamnese, deve ser: ainda existe amor entre vocês? (vide postagem: A LUTA DIÁRIA DO AMOR VERDADEIRO). Esse nobre sentimento, se preservado, realmente pode fazer uma simples disfunção, dele ou dela ou conjunta, ser facilmente resolvida pela terapia sexual. Sem ele, qualquer disfunção sexual pode realmente se tornar um problema, como por exemplo, quando essa disfunção é mencionada repetidas vezes, fora da cama, como uma forma de depreciar, afastar ou punir o queixoso e com a intenção de desqualificar e diminuir o outro na relação, como parceiro e como pessoa.As disfunções sexuais mais comuns são, para a mulher, falta de desejo sexual, falta de lubrificação e dificuldades na obtenção de orgasmos. Para o homem, o hipercontrole ejaculatório ou a ejaculação precoce, distúrbios da ereção e também a falta de desejo sexual. Passo a citar alguns aspectos do comportamento sexual inadequado que, inegavelmente, são determinantes e mantém as disfunções.

Através dos tabus, das crenças sexuais e de uma insistente e repressora desinformação sexual originam-se muitas queixas. A regra básica é a repressão sexual como controladora e transformadora. Outras expressões de comportamento, ou seja, o livre posicionamento da escolha subjetiva é a exceção desta regra que choca-se com o que é institucionalmente passado por gerações, implicando em perene fonte de conflitos pela ambigüidade e hipocrisia que o “bom” impessoal e grupal pode representar.

Dentre as perspectivas possíveis que abrangem as disfunções sexuais é apropriado que pensemos que o comportamento sexual inadequado de muitos casais como sendo o resultado de uma série de respostas emocionais condicionadas ao longo da vida juntos. Desavenças verbais e físicas, lutas de poder, hostilidade e raiva dos parceiros, agressividade, ciúmes, etc são circunstâncias que podem ser vistas como estímulos incondicionados que provavelmente eliciarão dor, medo, ansiedade e raiva como respostas condicionadas. No início das parcerias, dos contados afetivo-sexuais, cada um dos parceiros funciona para o outro como um estímulo neutro por não evocarem essas respostas, com o tempo, após os fatores diádicos ou relacionais mencionados terem frequentemente ocorrido, também ocorre o condicionamento e, por exemplo, por associação a visão do rosto, o toque, o som da voz ou mesmo o perfume dos envolvidos pela interação negativa tendem a determinar as respostas condicionadas negativas.

Outro exemplo da dimensão comportamental que possibilita verificar os condicionamentos são as repetições do quê as pessoas fazem, o por quê fazem ou deixam de fazer algo. Tarefa difícil se pensarmos as variedades de valores e experiências de vida encontrados. Como vimos é inquestionável a inibição sexual condicionada por alguns quadros emocionais desgastantes, na dinâmica intensa dos casais, que também provocam no organismo o desencadeamento de respostas vasocongestivas e miotônicas inibidas, que passam a bloquear ereções e provocar alterações negativas nas respostas autônomas responsáveis pela lubrificação feminina.

A dimensão clínica deve sempre ser pesquisada paralelamente ao trabalho psicoterapeutico, pois propõe sempre enfrentar os obstáculos orgânicos que podem diminuir ou impossibilitar o prazer e/ou a espontaneidade de nossas atividades sexuais, tais como: problemas físicos, endócrinos, lesões, uso de drogas, questões psiquiátricas e outros.

No tratamento das disfunções sexuais, o terapeuta deve prescrever, para o ataque inicial da queixa, as tarefas sexuais, que são um importante componente na tentativa de recrudescimento da sintomatologia. Esses exercícios quase sempre são eficientes para modificarem a resposta inadequada. Contudo, esses também podem expor indiretamente os pacientes, devido a dinâmica interativa que proporcionam, ao que consideramos e chamamos de problemas mais profundos e mantenedores de suas queixas: afloramento de fantasias negativas quanto ao tratamento, reminiscências traumáticas dos efeitos da aprendizagem (experiências sexuais traumáticas), perturbações da personalidade, conflitos inconscientes, fobias, etc. Neste momento, o terapeuta deve ser capaz de lidar com essas variáveis ("ouvindo o momento") e, parando a terapia sexual, trabalhar com as cognições e as emoções dos pacientes no intuito de focalizar a intervenção terapêutica nessas duas modalidades do comportamento que são potencialmente compreensíveis, modificáveis e adaptáveis.

Fugindo muito dos “fazeres alternativos psicoterapeuticos”, a formação do terapeuta sexual exige um trabalho com o qual ele adquira um saber, que esteja técnica e cientificamente orientado e habilitado para exercê-lo e transmiti-lo no tratamento das queixas da esfera sexual. Esse saber, contido nas palavras, essa ação colocada em questão é o próprio terapeuta que tem de seguir um conjunto de regras de unidade, normas e conhecimentos sistematizados consagrados pelo empirismo científico. Observa-se também no processo de terapia sexual que os “desaparecimentos” dos sintomas sexuais, em muitos casos são fictícios, e que o sintoma precocemente desaparecido (problema sexual manifesto) pode estar alojando-se em outro lugar ou transfigurando-se.


Quando intervirmos diretamente na eliminação de obstáculos imediatos específicos de um dos elementos do casal ou de ambos, sem evidências de comprometimentos intrapsíquicos profundos ou de personalidades acentuadamente neuróticas em relações conjugais altamente destrutivas ou competitivas, nota-se que a terapia, no que diz respeito aos exercícios terapêuticos propostos, possibilita novamente o desenvolver livre e ajustado da sexualidade. Contudo, quando materiais psicodinâmicos negativamente abundantes são evocados nas experiências com os exercícios ou nas sessões psicoterapeuticas de apoio evidenciando a não modificação da posição subjetiva frente ao sintoma sexual e às dificuldades conflitantes subjacentes, o curso do tratamento tem de ser modificado.

Concluo, ressaltando, que a sexologia deve ser encarada como uma ciência trans-sintomática, pois ela utiliza-se do sintoma para trabalhar o desencadear subentendido nele, o sintoma aponta a direção do que não funciona no conjunto. Por isso não se recolhe, nem se restringe às causas psicológicas remotas relacionadas ao conjunto. Trabalha-se através do sintoma, não somente no sintoma. Essa ciência foge ao preconcebido do “psicologismo”, reconhecendo a doença orgânica, a reação psicossomática, as dificuldades intrapsíquicas e interpessoais.