terça-feira, 27 de janeiro de 2009

TRATANDO OS PROBLEMAS SEXUAIS...



A sexualidade humana tornou-se, tardia e inegavelmente, um assunto discutido, refletido e tratável. Do rompimento das barreiras do pudor acadêmico vitoriano até a psicofisiologia do casal pioneiro de pesquisadores William Masters e Virgínia Johnson é atualmente reconhecida, merecidamente, como especialidade médica ou psicológica através da sexologia. A sexualidade humana vem, então, lenta e obrigatoriamente, afirmando-se como um campo complexo ainda por ser ampliado, ao longo de quase 40 anos, em pesquisas no desenvolvimento do comportamento psicossexual humano, cujo foco de interesse é voltado para o diagnóstico e a metodologia de tratamento das disfunções e desvios da sexualidade.

O título dessa matéria não deveria ter sido colocado com o termo “problemas” sexuais, mas sim com o termo disfunções sexuais. Claro que houve uma intenção e essa foi a de buscar a atenção da maioria das pessoas que percebe nos bloqueios persistentes ou passageiros de suas sexualidades como terríveis e indisolúveis problemas, mas insisto que não os são. Tornam-se problemas sérios e crônicos, na maioria das vezes, quando as pessoas tentam buscar numa ajuda leiga ou tecnicamente desqualificada, em pozinhos energéticos ou em "pilulazinhas" desnecessárias ou mesmo contra-indicadas a saída mais rápida e garantida ou também quando o casal está em uma crise dinâmica e a comunicação, nossa arma mais eficiente, entre eles foi a primeira coisa perdida há tempos. Não há como os casais se submeterem, seja qual for a linha psicoterapeutica, a tratamentos escandalosamente duradouros ou muitas vezes onerosos e conseguirem ainda encontrar soluções satisfatórias ou estáveis de suas queixas, de seus relacionamentos conjugais, sexuais ou pessoais, já corroídos pelas frustrações e desesperanças, se não estiver preservados o amor e uma permanente comunicação entre eles.

Existem dois tipos de disfuncionais: os primários, que sempre tiveram alguma queixa desde as primeiras relações e os secundários, que apresentaram bloqueios depois de um histórico sexual satisfatório. Podem ser tanto homens como mulheres que têm uma parceria fixa e os que não têm. No momento, vamos nos ater aos que preferiram buscar por uma parceria fixa.

Quando se recebe um casal para tratamento de uma disfunção sexual, dele ou dela, a pergunta mais importante, se não for a mais importante da anamnese, deve ser: ainda existe amor entre vocês? (vide postagem: A LUTA DIÁRIA DO AMOR VERDADEIRO). Esse nobre sentimento, se preservado, realmente pode fazer uma simples disfunção, dele ou dela ou conjunta, ser facilmente resolvida pela terapia sexual. Sem ele, qualquer disfunção sexual pode realmente se tornar um problema, como por exemplo, quando essa disfunção é mencionada repetidas vezes, fora da cama, como uma forma de depreciar, afastar ou punir o queixoso e com a intenção de desqualificar e diminuir o outro na relação, como parceiro e como pessoa.As disfunções sexuais mais comuns são, para a mulher, falta de desejo sexual, falta de lubrificação e dificuldades na obtenção de orgasmos. Para o homem, o hipercontrole ejaculatório ou a ejaculação precoce, distúrbios da ereção e também a falta de desejo sexual. Passo a citar alguns aspectos do comportamento sexual inadequado que, inegavelmente, são determinantes e mantém as disfunções.

Através dos tabus, das crenças sexuais e de uma insistente e repressora desinformação sexual originam-se muitas queixas. A regra básica é a repressão sexual como controladora e transformadora. Outras expressões de comportamento, ou seja, o livre posicionamento da escolha subjetiva é a exceção desta regra que choca-se com o que é institucionalmente passado por gerações, implicando em perene fonte de conflitos pela ambigüidade e hipocrisia que o “bom” impessoal e grupal pode representar.

Dentre as perspectivas possíveis que abrangem as disfunções sexuais é apropriado que pensemos que o comportamento sexual inadequado de muitos casais como sendo o resultado de uma série de respostas emocionais condicionadas ao longo da vida juntos. Desavenças verbais e físicas, lutas de poder, hostilidade e raiva dos parceiros, agressividade, ciúmes, etc são circunstâncias que podem ser vistas como estímulos incondicionados que provavelmente eliciarão dor, medo, ansiedade e raiva como respostas condicionadas. No início das parcerias, dos contados afetivo-sexuais, cada um dos parceiros funciona para o outro como um estímulo neutro por não evocarem essas respostas, com o tempo, após os fatores diádicos ou relacionais mencionados terem frequentemente ocorrido, também ocorre o condicionamento e, por exemplo, por associação a visão do rosto, o toque, o som da voz ou mesmo o perfume dos envolvidos pela interação negativa tendem a determinar as respostas condicionadas negativas.

Outro exemplo da dimensão comportamental que possibilita verificar os condicionamentos são as repetições do quê as pessoas fazem, o por quê fazem ou deixam de fazer algo. Tarefa difícil se pensarmos as variedades de valores e experiências de vida encontrados. Como vimos é inquestionável a inibição sexual condicionada por alguns quadros emocionais desgastantes, na dinâmica intensa dos casais, que também provocam no organismo o desencadeamento de respostas vasocongestivas e miotônicas inibidas, que passam a bloquear ereções e provocar alterações negativas nas respostas autônomas responsáveis pela lubrificação feminina.

A dimensão clínica deve sempre ser pesquisada paralelamente ao trabalho psicoterapeutico, pois propõe sempre enfrentar os obstáculos orgânicos que podem diminuir ou impossibilitar o prazer e/ou a espontaneidade de nossas atividades sexuais, tais como: problemas físicos, endócrinos, lesões, uso de drogas, questões psiquiátricas e outros.

No tratamento das disfunções sexuais, o terapeuta deve prescrever, para o ataque inicial da queixa, as tarefas sexuais, que são um importante componente na tentativa de recrudescimento da sintomatologia. Esses exercícios quase sempre são eficientes para modificarem a resposta inadequada. Contudo, esses também podem expor indiretamente os pacientes, devido a dinâmica interativa que proporcionam, ao que consideramos e chamamos de problemas mais profundos e mantenedores de suas queixas: afloramento de fantasias negativas quanto ao tratamento, reminiscências traumáticas dos efeitos da aprendizagem (experiências sexuais traumáticas), perturbações da personalidade, conflitos inconscientes, fobias, etc. Neste momento, o terapeuta deve ser capaz de lidar com essas variáveis ("ouvindo o momento") e, parando a terapia sexual, trabalhar com as cognições e as emoções dos pacientes no intuito de focalizar a intervenção terapêutica nessas duas modalidades do comportamento que são potencialmente compreensíveis, modificáveis e adaptáveis.

Fugindo muito dos “fazeres alternativos psicoterapeuticos”, a formação do terapeuta sexual exige um trabalho com o qual ele adquira um saber, que esteja técnica e cientificamente orientado e habilitado para exercê-lo e transmiti-lo no tratamento das queixas da esfera sexual. Esse saber, contido nas palavras, essa ação colocada em questão é o próprio terapeuta que tem de seguir um conjunto de regras de unidade, normas e conhecimentos sistematizados consagrados pelo empirismo científico. Observa-se também no processo de terapia sexual que os “desaparecimentos” dos sintomas sexuais, em muitos casos são fictícios, e que o sintoma precocemente desaparecido (problema sexual manifesto) pode estar alojando-se em outro lugar ou transfigurando-se.


Quando intervirmos diretamente na eliminação de obstáculos imediatos específicos de um dos elementos do casal ou de ambos, sem evidências de comprometimentos intrapsíquicos profundos ou de personalidades acentuadamente neuróticas em relações conjugais altamente destrutivas ou competitivas, nota-se que a terapia, no que diz respeito aos exercícios terapêuticos propostos, possibilita novamente o desenvolver livre e ajustado da sexualidade. Contudo, quando materiais psicodinâmicos negativamente abundantes são evocados nas experiências com os exercícios ou nas sessões psicoterapeuticas de apoio evidenciando a não modificação da posição subjetiva frente ao sintoma sexual e às dificuldades conflitantes subjacentes, o curso do tratamento tem de ser modificado.

Concluo, ressaltando, que a sexologia deve ser encarada como uma ciência trans-sintomática, pois ela utiliza-se do sintoma para trabalhar o desencadear subentendido nele, o sintoma aponta a direção do que não funciona no conjunto. Por isso não se recolhe, nem se restringe às causas psicológicas remotas relacionadas ao conjunto. Trabalha-se através do sintoma, não somente no sintoma. Essa ciência foge ao preconcebido do “psicologismo”, reconhecendo a doença orgânica, a reação psicossomática, as dificuldades intrapsíquicas e interpessoais.

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