quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O MEDO DE DIRIGIR, DO TRÂNSITO E DO VEÍCULO.



Que o trânsito das grandes cidades causa medo, ninguém duvida. Mas daí a ter pânico diante do volante de um carro, já seria demais, certo? Errado. Esse fenômeno, caracterizado como uma fobia específica, não conta com estatísticas oficiais, mas vem chamando a atenção dos psicólogos e tem contado agora com tratamento especializado tamanha a sua amplitude. Sudorese, náuseas, taquicardia, vertigem ou tremores são alguns dos sintomas que normalmente acometem o indivíduo com fobia específica diante do volante no trânsito, sendo a defesa mais comum a fuga ou o adiamento de lidar com o objeto carro, nos exames de habilitação. A figura "intransigente e medonha" do examinador é também um aspecto imobilizante para muitas pessoas, que além do objeto temem também as circunstancias e pessoas envolvidas. 

Mas, com a abordagem da psicologia cognitiva-comportamental, é possível através de uma terapia breve eleger junto ao paciente defesas mais racionais e adaptativas que podem tornar o medo fóbico irracional algo mais conhecido, palpável e dimensionado e, portanto, mais fácil de ser combatido pela coerência e lógica e também pela dessensibilização fóbica, com o auxílio do transe hipnótico. A fobia específica de trânsito, canalizada para o veículo e/ou para o ato de dirigir, geralmente, mas nem sempre, tem como causa uma experiência desastrosa num carro envolvendo a pessoa ou outras pessoas significativas ou da família nas quais o veículo se transforma em um espaço fóbico, pois a pessoa teme que a experiência ruim aconteça novamente e esquivam-se de tocarem num volante. 

Lembro-me de uma paciente que foi casada por seis anos com um homem que dirigia de forma imprudente e agressiva o qual usava o veículo como um objeto de exteriorização das suas inseguranças pessoais. Nessa situação, minha paciente passou a ver o veículo como algo potencialmente inseguro e destrutivo. Ela chorava pedindo para descer do automóvel quando ele começava com as suas atitudes auto-afirmativas, que já serviam para sadicamente amedrontá-la. Ela tinha CNH, mas não conseguia dirigir quando adquiriu seu próprio veículo. Outra paciente relatou que começou a frequentar uma auto-escola e estava evoluindo bem no aprendizado, até que resolveu dar uma voltinha com o carro do marido num loteamento em construção. Ela estava de tamanco com salto e esse ficou preso entre o freio e a embreagem, largando o volante para soltar o tamanco com o carro em movimento, vindo o carro a subir no meio-fio e bater em um poste. Sentia-se nervosa ao estar diante do volante depois do acontecido. Tendo receios até mesmo no assento do passageiro, passando os trajetos a "pisar" num freio imaginário. 

Admito que acidentes com alguma violência são marcadamente traumatizantes, mesmo os que a mídia expõe e que causam comoção nacional. A morte do piloto Ayrton Senna certamente provocou temor de dirigir em muitas pessoas ou levou-as a repensar as questões de segurança atrás de um volante. Pessoas sensíveis, sugestionáveis ou com temores inconscientes da morte (presentes em todas as fobias) e que também devem ser abordados, podem ficar particularmente impressionadas quando outras pessoas próximas têm medo de carros ou se essas já se envolveram em acidentes.

Contudo, as várias outras causas de fobias específicas nem sempre são facilmente identificáveis. Às vezes, temos que vasculhar o histórico de vida do paciente para tentar detectar a origem do medo e dessensibilizar através da catarse emocional, positivando, neutralizando ou melhorando a relação do paciente com a vivência traumática paralelamente ao trabalho de ganho de confiança, reforço de ego e vivências gestálticas controladas e focadas no trânsito e no ato de dirigir, no transe hipnótico. Os pacientes com fobia de trânsito têm como medos mais comuns o tráfego intenso, o temor de cometer acidentes, de trafegar junto aos ônibus ou caminhões e, no caso das mulheres, de serem xingadas por cometerem falhas.

O tratamento requer atenção individual, visto que cada caso é um caso. Uma anamnese bem feita, com um relato detalhado da vida do paciente com respeitando aos aspectos familiares, sociais, afetivos, dentre outros é fundamental para tentar traçar o perfil psicológico de cada paciente, até se poder chegar a trabalhar os efeitos comportamentais que os quadros fóbicos desencadeiam. Na questão do trânsito é importante salientar que nenhum tratamento obterá êxito se a pessoa não dominar as técnicas do ato de dirigir, ou seja, trata-se a fobia sem ensinar a dirigir. 

Embora as fobias de trânsito normalmente surjam à partir de uma causa específica, também relacionada ao trânsito, as fobias em geral estão ligadas à ansiedade e a quadros depressivos e, num segundo momento, às neuroses decorrentes da ansiedade. Coerentemente, deve-se abordar todos os aspectos intrínsecos da conduta de cada paciente, dentro um processo terapêutico convencional.

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